“Santiago, compareça a esta ponte de comando!” ou “Santiago, venha a este gabinete, meu bom homem!”
Estas eram duas das expressões que vinham de Sidney Mazzoni, editor-chefe com quem tive a honra de trabalhar por alguns anos – até 30 de junho de 2012, data em que ele partiu, fulminado por um infarto.
Mazzoni, do alto da sua experiência de O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde (além do Jornal da Cidade, de Jundiaí, por onde também passara e deixara sua marca), chegou ao Jornal de Jundiaí vindo do Estadão naquela década de 2000. Chegou chegando, como bom ponta-de-lança que tentara ser – ou, melhor ainda, chegou chegando como ala de basquete – outro esporte que ele amava e no qual fez muitos amigos, começando lá atrás, ainda estudante, até chegar às primeiras redações de jornais e começar a fazer furor.
No JJ, era autor de uma coluna dominical em que saía disparando para todos os lados. Politicamente incorreto até dizer chega, estaria ruminando, nestes tempos atuais, que todos os assuntos ficaram proibidos ou não comportam mais qualquer espécie de franqueza demasiada. “Suscetibilidades em excesso”, talvez pensaria hoje.
Chegava ao prédio no número 53 da rua Baronesa do Japi, ia apagar os eventuais incêndios editorais e, dali a pouco, estava sentado na sala de reuniões, cercado pelos editores que o tinham como ídolo e, em pouco tempo, eu próprio também comecei a participar das tais reuniões semanais de pautas especiais – apesar de eu ser apenas repórter e não ter, portanto, o que fazer ali.
Apesar de Mazzoni ser um ícone do jornalismo jundiaiense, eu pouco o conhecia, paulistano que sou – embora soubesse quem ele era e lembrasse de algumas de suas coberturas de quatro Copas do Mundo, a bordo do JT. Numa das tais reuniões de pauta a que ele começou a me convocar (o que aconteceu cerca de um mês após eu ter voltado ao jornal), ele inventou que alguém deveria ir a Itatinga, ali na rodovia Santos Dumont. Eu, como se fora um foquinha, não sabia o que era ou onde ficava ou o que acontecia em Itatinga. Foi uma gargalhada geral quando os meus colegas editores – Hanaí Costa Tavares, Sandra Marques, Bel Bueno, Rafael Zochetti, Luciana Alves e Tatiana Rosa (a quem caberia a tarefa de editar minha matéria no caderno de Especiais, num domingo) entenderam que eu não estava blefando e que não, eu não fazia ideia do que era o tal Itatinga.
Mazzoni me olhou da ponta da mesa, onde ele se sentava para comandar a reunião, com um sorriso de zombaria, pôs a mão esquerda sobre o braço de Hanaí (nossa pauteira) e disse: “Dá essa matéria pro Santi”, que era como me chamavam no Jornal de Jundiaí. Gargalhadas continuaram e eu, bobão, comecei a perguntar e a escutar de que catzo de Itatinga estavam falando. Foi, acho, Rafael Zochetti, então editor de Esportes, quem começou a descrever as cenas e o que se passava em Itatinga – mas logo a reunião de pauta virou uma grande zona – perdão pelo trocadilho.
Trocadilhos, aliás, eram outra especialidade de Sidney Mazzoni. Vinham sempre afiados e era difícil de responder à altura. Assim como era difícil, para os colegas de outros departamentos, responderem à altura para nosso editor-chefe ou sequer tentar vencer qualquer briga que tivessem com alguém da Redação. Mazzoni defendia seus repórteres até o fim, em qualquer caso em que estivessem metidos. Se um marciano pousasse sua espaçonave em qualquer canto de Jundiaí por aqueles dias e perguntasse algo como “Leve-me ao seu líder”, teríamos apontado Sidney Mazzoni e o ET que se virasse para conversar com nosso editor-chefe.
Era palmeirense de amar Ademir da Guia e de ficar contando as semanas para o que era iminente – a queda do Corinthians para a Série B do Brasileiro. Ele havia preparado a manchete para o dia em que a desgraça (para os alvinegros) acontecesse. Só ficou arrancando as folhas do calendário e esperando. E baixou uma determinação: se a queda corintiana se desse em um fim de semana em que ele não estivesse de plantão, a manchete estava pronta, guardada e ai do editor de plantão se não a usasse.
Mas a ameaça foi desnecessária. No domingo, 2 de dezembro de 2007, o Corinthians fez o que dele se esperava – ficou no empate por um a um contra o Grêmio, em Porto Alegre. E foi rebaixado. Mazzoni esfregava as mãos enquanto batucava em seu teclado a manchete que estaria estampada na capa do JJ do dia seguinte: “Hoje é segunda, Timão!”
Neste 30 de junho de 2025, treze anos após a perda deste querido jornalista e amigo, fica a lembrança, minha homenagem à sua memória e a certeza de que o jornalismo está muito sem graça sem suas pilhérias e sacadas geniais. Nas estrelas, onde quer que esteja, receba um beijo deste alvinegro. É o que tem pra hoje…